No dia 9 de março de 2015, Tim Cook, CEO da Apple, subiu ao palco para mais um keynote da gigante norte-americana. Como de costume, novos produtos e aperfeiçoamentos eram esperados, principalmente sobre a mais nova adição à família de gadgets da Apple – o primeiro wearable da companhia, o já divulgado Watch.
A apresentação iniciou com um vídeo, mostrando a inauguração da nova loja de varejo da Apple em West Lake, na China. Com um projeto arquitetônico da grandiosidade da devoção dos chineses para com a companhia, o visual do prédio impressiona. Mais impressionantes ainda são os números da expansão do modelo de canal direto da empresa. A loja de West Lake já é a 21ª na China, de um total de 453 no mundo inteiro. No último trimestre, a Apple informa que 120 milhões de pessoas visitaram suas lojas espalhadas ao redor do globo.
Dando continuidade à apresentação, Tim apresentou uma nova parceria para a distribuição de conteúdo – desta vez com a gigante HBO, que irá comercializar um novo plano de assinatura on-demand (via streaming) para seus seriados e filmes. Richard Pepler, CEO da HBO, apresentou o HBONow, que promete disponibilizar (por U$ 14,99 / mês) todo o catálogo da empresa (incluindo filmes do passado e séries já encerradas, como The Sopranos, Sex and the City e Band of Brothers) como também conteúdo recente (o blockbuster Game of Thrones, por exemplo).
Voltando para o ecossistema da Apple, foram apresentados o novo MacBook e mais detalhes sobre o Apple Watch. Em ambos os produtos, destaque para a engenharia de vanguarda, como no novo formato de bateria do MacBook (figura abaixo), e no novo teclado com mecanismo “butterfly”, que promete uma nova experiência de digitação.
Em meio à tradicional pirotecnia tecnológica da Apple, pode ter passado de forma menos cintilante pela mídia em geral, o lançamento anunciando pelo vice-presidente de Operações, Jeff Williams. Trata-se do ResearchKit. Nas palavras de Jeff:
ResearchKit trata-se de um framework open source desenhado para permitir pesquisa médica e estudos relacionados à saúde, ajudando médicos e cientistas a obterem dados mais frequentes e mais precisos de usuários e pacientes que utilizarem os aplicativos da plataforma.
O projeto, que conta com a parceria de importantes organizações de saúde, como a Universidade de Oxford, o centro de Medicina da Universidade de Stanford, o Centro de Câncer da UCLA e a Fundação Michael J. Fox (entre outras renomadas instituições), passa a oferecer um canal direto entre desenvolvedores de aplicativos e a comunidade médica e acadêmica. A ideia é que mais de 700 milhões de usuários de iPhone possam participar, de forma voluntária e anônima, de estudos e pesquisas, contribuindo com a entrada de dados (que podem ser inseridos através de formulários de pesquisa sobre sintomas ou de forma mais automatizada, utilizando sensores e app´s de terceiros, ou mesmo coletando informações do aplicativo “Saúde”, pré-instalado no sistema operacional iOS 8).
Já no lançamento, 5 aplicativos foram anunciados e já estão disponíveis para download na App Store (inicialmente, apenas nos Estados Unidos):
- Compartilhe a jornada (Share the Journey): aplicativo que pretende avaliar os efeitos de longo prazo da quimioterapia, com o objetivo de proporcionar uma melhor qualidade de vida para pacientes no pós-tratamento;
- GlucoSuccess: desenvolvido pelo Hospital de Massachusetts, irá auxiliar pacientes a entender como aspectos diversos da sua vida (dieta, atividades físicas e medicação) irão afetar seus níveis de açúcar no sangue;
- mPower: desenvolvido pela Universidade de Rochester e pela Sage Bionetworks, o aplicativo se propõe a medir com precisão a destreza, o equilíbrio, a memória e andar do paciente. Esta informação passa a ser utilizada para que os pesquisadores possam entender melhor como os diversos sintomas se conectam. Em troca, os pacientes podem passar a entender melhor suas próprias reações e sintomas;
- MyHeart Counts: parceria da Stanford Medicine e da Universidade de Oxford, o aplicativo utiliza formulários e tarefas para auxiliar os pesquisadores a identificar com mais precisão como as atividades e o estilo de vida do paciente estão relacionados com doenças cardiovasculares;
- Asma Health: desenvolvido por Mount Sinai, pela Faculdade de Medicina Weill Cornell e pela LifeMap, o aplicativo procura identificar com os gatilhos da doença, auxiliando também o paciente a controlar a doença (por exemplo, evitando áreas onde a qualidade do ar pode piorar os sintomas). Com o mapeamento dos padrões identificados, os pesquisadores pretendem desenhar tratamentos mais direcionados e personalizados.
Não ficou muito claro, no entanto, até que ponto a Apple estará disposta a permitir o uso da plataforma em dispositivos rodando outros sistemas operacionais. Como a plataforma foi denominada “open source”, nada impede que o framework seja portado para outro sistema operacional (Android, por exemplo). No entanto, isto demandaria interesse e horas de desenvolvimento da comunidade ou de alguma companhia interessada. Os 5 aplicativos iniciais estão disponíveis apenas para iOS.
De qualquer forma, a abordagem voltada à saúde é mais um passo da companhia para estar cada vez mais presente no dia-a-dia das pessoas. Logicamente, ainda existem diversas implicações éticas a serem melhor avaliadas, e a preocupação com a privacidade e segurança dos dados dos pacientes e usuários é algo que deve ser preservado a todo custo (premissa reforçada pela própria Apple no keynote), mas o fato é que estaremos um passo à frente no intuito de utilizarmos dispositivos do cotidiano (um smartphone) como ferramenta no auxílio de diagnóstico e prevenção de doenças.